Translate

sexta-feira, 12 de outubro de 2012


Como Deus vê a criança?

Quando Jesus chama uma criança para perto de si e diz que se não nos tornarmos uma criança não entraremos no reino (Mt 18), ele está dizendo que vê na criança o melhor do ser humano; que ela tem muitas características que não deveríamos perder, mas que perdemos com o tempo. Em boa parte do capítulo 18, Jesus está nos advertindo para que não deixemos que as crianças percam tais características, pois esta perda vai afastá-las do Pai. Primeiro, a criança tem um deslumbramento em relação à criação, a Deus, a certeza de que o universo é muito mais do que aquilo que os nossos olhos podem perceber. Segundo, Jesus sugere que as crianças têm uma espécie de comunhão com os anjos, porque ele diz que os anjos das crianças vão constantemente diante dele, dando a impressão de que existe uma interação entre as crianças e o mundo espiritual, que, como adultos, não percebemos mais. Perdemos essa sensibilidade para com Deus. Terceiro, a criança tem a consciência de carência, de necessidade do outro, aquela sensação de que a solidão não é boa. Em qualquer situação de abandono ela chora, pois sabe que não pode ficar sozinha, que ninguém nasceu para ficar sozinho. Isso é algo que vamos desaprendendo, principalmente porque, no mundo moderno, somos estimulados o tempo todo ao individualismo.

São consideradas crianças pessoas de que idade?

É difícil dizer. Claro que os mais novos são crianças por excelência, porque eles têm tudo de dependência, de convivência; são uma porta aberta, onde se pode colocar coisas boas ou coisas ruins. O que nos torna, como educadores, tão responsáveis pelo mundo é que as crianças só vão processar o que receberem. Deveríamos prolongar a infância ao máximo, mantendo as crianças dentro dessa abertura para o outro, dessa alegria, dessa franqueza, dessa vontade de estar junto. Porém, estamos fazendo o contrário. Hoje, uma criança de 4 ou 5 anos já está começando a reagir como adulto. Nós - a sociedade - é que determinamos a duração da infância. No meu tempo de garoto ela durava mais. Com 12 ou 13 anos, ainda estávamos brincando na rua, empinando pipa, jogando pião. Não é tão cronológico, com exceção dos primeiros 2 ou 3 anos, em que é mais difícil a criança processar o ódio que tentam incutir nela. Depois, isso dependeria do ambiente em que a criança é criada. É exatamente isso que Cristo quer dizer em Mateus 18 quando nos adverte a não desviar ou estragar as crianças. Nós as desviamos quando as fazemos não amar ser gente. A infância é a fase em que se aprende não apenas a ser gente, mas também a amar ser gente. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário